domingo, julho 06, 2008

 

No multibanco

Fomos até à rua principal e apanhei um lugar mesmo à porta. Disseram-me que tinham de levantar dinheiro, há um multibanco próximo mas ainda tem de se andar um pouco. Fomos até lá e começo a achar que aquele andar apressado é uma forma de disfarçar a atrapalhação. O olhar rápido para todo o lado, umas frases soltas sem grande sentido e eu a fazer um esforço tremendo para mostrar calma e controlo de mim mesmo. Numa vez ou outra consegui fazê-lo bem. Foi nesses momentos que notei a maior falta de à vontade na situação.
O multibanco é daqueles que se entra para um hall do banco. Enquanto guardava as notas na carteira, da rua ouvem-se assobios e gente a gritar. Foi um choque! Era um grupo de putos nojentos, daqueles que evito todos os dias com medo que me assaltem. Eram montes deles, deviam ser uns 10, com muito mau aspecto, uns em bicicletas, a falarem alto, com mais merdas, caralhos e putas que outras palavras quaisquer. Enfim ... houve quem ficasse branco, a mim caíram-me ao chão. Mas o sorriso nunca me saiu dos lábios, juro! Deve ter sido o efeito da adrenalina, o certo é que pensei a uma velocidade tal e percebi que jamais poderia desmanchar aquele ar de confiança e bem na vida que tinha estampado. Não disse nada, mas saí pela porta do multibanco em primeiro lugar e disse um "com licença" a uns quantos dos caroxos à porta, para assim poder passar. Os assustados, vinham atrás de mim e nunca abriram a boca. Ufa! Alguns tipos olhavam-nos fixamente. Eu sem nunca olhar directamente nenhum deles mantive a cabeça alta sem baixar. Foi tudo instantâneo, 5 segundos não mais. Quando ainda havia miúdos a meio metro de nós, retomei no mesmo tom de voz a conversa que estávamos a ter como se rigorosamente nada estivesse a acontecer, demoraram um pouco mas retomaram também a conversa. Uns metros mais à frente fui o grande hipócrita da noite, viro-me para quem tinha ficado em branco e saio-me com esta: "Não tiveste medo daqueles rapazes ali pois não?", abanou a cabeça a toa e sorriu. Rematei ainda "Como já me tentaram assaltar tantas vezes em Lisboa, conheço a cara dos que nos querem fazer mal, estes não são mais que miúdos pobres que moram aqui perto" Aqui eu estava certo, ter-nos-iam feito mal se fossem mesmo dos maus. E não seria o ar de confiança nem o à vontade que tentava mostrar que nos iriam salvar o dinheiro. A verdade é que fiz boa figura, provavelmente fui eu quem mais medo teve. A melhor parte é que ninguém deu por isso :)

Comments:
Ao menos és honesto. Mas eu sabia que não ias ter medo dos maus
(aliás é em situações limite que se vê quem é que são os bons)
. Demais a mais, a diferença entre um cobarde e um herói é que um foge para trás e outro para a frente.
 
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